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Meu presente de 24 anos.

Tudo começou numa noite quente de sexta-feira, nesse espaço bem próximo à linha do equador,  de cerca de 15m² que chamo de lar, quando resolvi me livrar do suor extra - por não te ar-condicionado em casa- - por não poder comprar-condicionador de ar - e ficar suspensa balançando numa rede há cerca de 50cm do chão..
Eu, com toda minha experiência de menos de 5 meses morando sozinha, dei um super nó, super treinado, que já tinha feito menos que 10 vezes na vida no punho da rede e confiei todos os meus ?? Kg àquele nó dado com a mais perfeita inabilidade.
Acho que já dormia (não que demore muito pra eu cair no sono) há uns 5 min quando de repente TRÀÀÁ! obedeci àquela força implacável que te chama ao centro da terra e, juro, que passei pela dor de um parto todo em 0,5 segundo!
Queda na hora não avisa o que vai ser no outro dia... hiperemia local, vasodilatação reflexa, mediadores inflamatórios recém-liberados, calor, rubor e todos os outros sinais flogísticos, me fizeram crer que se tomasse um analgésico (desses pra cólicas menstruais) estaria zerada pro plantão do outro dia!
Como tava de couro quente, chateada por ter caído e ainda caindo de sono, consegui dormir daquela forma que parece que o Tyson te acertou e vc só acorda no outro dia quando o despertador toca.

O despertador tocou...

Às 6h, como de costume, eu me estiquei pra desligar e, pela misericórdia divina, o que eu senti não foi dor, foram meus feixes nervosos cantando "I want it all" para todos os nociceptores da região lombo-sacro-coccígea" C@r@l30!!! Não consegui falar, gritar, chorar, xingar... Só em um vigésimo de segundo pensar "Deus!"
Depois que consegui me puxar para sentar naquele pêndulo de tortura em que se transformou minha redinha amiga quis chorar mas, o que adiantaria? Liguei pro primeiro amigo da lista de primeiros socorros e "Sua chamada está sendo encaminhada para caixa de mensagens e estará suj..." e resolvi avisar logo ao meu preceptor do dia que  não ia dar pra ir ao plantão porque eu teria que andar pra chegar ao local de trabalho!
Avisei meus pais, meu noivo, fiz um breve pedido de ajuda a Deus pra conseguir chegar à porta da frente do meu apê e chamei um táxi pra me levar ao hospital.

PRIMEIRA E ÚNICA CRÍTICA: Na cidade onde moro todas as corridas de táxi custam R$10,00.Tudo bem, tinha em mente que pagaria esse valor pra atravessar a rua (moro na frente de um hospital) mas o taxista me esperou tentar descer a escada como uma velhinha travada acho que... por 15 min. e sequer se mexeu pra abrir a porta do táxi! Sou contra cavalheirismo porque é machismo maquiado mas, gentileza e humanização dos taxistas é uma proposta de programas para esse ano!

Sem críticas aqui. Todos me atenderam benevolentemente (acho que minha cara de dor me entregou.. e quem sabe o fato de ainda estar de pijama.. enfim). E pessoas a quem nunca ofereci mais que um sorriso gentil me foram os mais próximos amigos..

Mas a pior parte foi neste ponto.

Ver o médico se aproximar com cautela e falar pausadamente congelou minha espinha dolorida e fez minhas pernas tremerem em cima da cadeira de rodas onde fui parar.
- Lídia, o que temos aqui é meio grave...
(engole em seco)
- Há um pequeno desalinhamento no arco da última vértebra lombar (e aí eu pensei "arco e vértebra só aparece desalinhado na tomo se for desvio latero-lateral ou fratura..) e acredito que pode ter um fratura..
(engole mais em seco. Silêncio. Silêncio.)
Meu noivo entra na sala do médico nessa hora e pergunta novamente o que houve mas confesso que eu estava distante nessa hora.. Os analgésicos que tomei na urgência começaram a fazer a dor diminuir uma coisinha de nada e eu aproveitei pra evadir..
ouvi o médico falando -Vocês terão que procurar um especialista, traumatologista ou ortopedista e...

Voltei à realidade dos sentidos de forma completa já em casa. Meu noivo falava com meu pai, que falara com outra pessoa, que alguém viria me buscar, mas nisso tudo a dor ainda tinha a voz mais nítida.
Foi uma espera longa até chegar à capital e à emergência com o traumatologista para receber a confirmação de fratura do arco da ultima vértebra lombar por contusão direta e outras doses de analgésico e anti-inflamatório intra-venoso.
Soube que poderia esperar em casa até a consulta com o especialista em coluna, em companhia, é claro, de uns trocentos analgésicos (um substituindo o outro caso o anterior não fizesse o efeito).

O momento de respirar naquele dia foi quando meu pai sorriu quando me viu chegar em casa e me disse "Você tá com o papai. Pode descansar".

A partir daí foi praticamente uma vida de 4 dias de espera entre cama e banheiro, analgésico e anti-inflamatório. Com uma semana eu já conseguia elevar o tronco sem tanta dor mas a ansiedade da consulta com o especialista cutucava o local da dor de vez em quando.

Finalmente, o dia da consulta chega (meu pai não quis ir à sala do médico comigo. Foi serviço pra mais forte: minha mãe), O médico olhou todas as tomos pausadamente, As que fiz e as que refiz. Foram-se uns 15 minutos de avaliação e já esperava o dia da marcação da cirurgia.

Mas... ele me disse quase sorrindo. Meu anjo, aqui não há fratura. Essa vértebra na verdade, sua última vértebra lombar e a primeira vértebra sacral, nunca estiveram unidas.. Você, provavelmente, tem spina bífida oculta (What!?) e toda a dor pra movimentar foi da contusão.
Spina bífida,,, na graduação atendi umas tantas crianças com Spina bífida associada ou não à Mielomeningocele que tinha complicações grandes para conseguir andar ou nem andavam, mesmo com auxílio de dispositivos.

Eu cai sobre um arco de vértebra que, tecnicamente, se quebraria muito mais fácil que qualquer um outro, mas estava lá, separado mas inteiro. E eu, mesmo tendo nascido com pé congênito varo e passado pela primeira cirurgia da vida aos 3 meses de idade, andava. Sem sequelas. Sem conhecimento do que passou perto de ser.

Hoje, já me sinto bem melhor, com a dor bem controlada, cuidados dos pais e carinho dos amigos, consegui sentar esse minutos pra escrever sobre esse evento marcante na minha vida.

PARTE FELIZ: Além dos familiares e dos mais próximos, é claro, são nesses momentos em que percebemos nossa dependência da caridade alheia. Percebemos quem liga pra gente, Pra quem é nosso amigo e pros que simplesmente são papel de fundo.

A todos que me ajudaram: Não poderia ser mais grata. Talvez nunca pague diretamente a vocês a bondade que me fizeram, Mas nas minhas práticas diárias, vou ver cada rosto desconhecido como o de vocês.

Fecho esta postagem com a frase mais linda de carinho que já ouvi (do meu pai): "Essa vértebra deveria ter se quebrado justamente porque era mais frágil. Mas Deus te segurou nas mãos, filha" :.)




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